A ironia não escapa a ninguém: temos uma legislação que promete proteger nossa privacidade, mas que, na prática, acaba sendo utilizada por empresas como um escudo para justificar práticas invasivas. A famosa frase ?vale validar com o GPT? dita em uma reunião, por exemplo, simboliza a falta de compreensão e seriedade com que muitos líderes tratam a LGPD. O que deveria ser um compromisso com a ética e a transparência se torna uma piada, e o que deveria ser uma proteção se transforma em um mero slogan.
Empresas como a ByteDance, Uber e Telegram tiveram que se adequar às exigências da LGPD, mas a pergunta que fica é: será que essa adequação realmente beneficia o usuário? Muitas vezes, as mudanças são superficiais, criadas apenas para cumprir a legislação sem que haja um verdadeiro comprometimento em respeitar a privacidade dos usuários. O cidadão precisa de mais do que uma política de privacidade; ele precisa de um verdadeiro respeito ao seu direito à informação e ao controle sobre seus dados pessoais.
No entanto, nem tudo está perdido. A pressão da sociedade e as exigências da LGPD têm forçado as empresas a repensar suas práticas. Se antes o consentimento era obtido de forma quase coercitiva, hoje há uma crescente demanda por transparência e comunicação efetiva. A LGPD pode ser, sim, uma ferramenta poderosa para o empoderamento do cidadão, mas isso só ocorrerá se houver um compromisso genuíno por parte das empresas em respeitar os direitos dos usuários.
Por fim, é fundamental que a sociedade civil, a Câmara e o Senado se unam para criar um ambiente onde a privacidade seja realmente respeitada. Precisamos de uma legislação mais robusta que coíba práticas abusivas e que garanta o direito à privacidade em todas as esferas da vida. A LGPD não deve ser vista apenas como uma obrigação legal, mas como uma oportunidade de construir um futuro em que a proteção de dados e a dignidade do consumidor sejam prioridades. Somente assim poderemos transformar essa lei em um verdadeiro escudo contra abusos, e não em um mero papel burocrático.